O Papa: a velhice é um dom de sabedoria e maturidade para todas as idades da vida
- Igreja no Mundo
- 23/02/2022
- Por: Mariangela Jaguraba - Vatican News
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O Papa Francisco iniciou um novo ciclo de catequeses, nesta quarta-feira (23/02), dedicado ao tema do sentido e o valor da velhice.
Segundo o Papa, "esta idade da vida diz respeito a um verdadeiro "novo povo" que são os idosos". "Nunca fomos tão numerosos na história da humanidade", sublinhou Francisco e o "risco de ser descartados é ainda mais frequente: os idosos muitas vezes são vistos como um peso". "Na primeira fase dramática da pandemia, foram eles que pagaram o preço mais alto. Já eram a parte mais frágil e transcurada", frisou o Pontífice, aconselhando a ler a Carta do Direito dos Idosos.
Junto com a migração, a velhice está entre as questões mais urgentes que a família humana é chamada a enfrentar neste momento. Não se trata apenas de uma mudança quantitativa; está em jogo a unidade das idades da vida, ou seja, o verdadeiro ponto de referência para a compreensão e apreciação da vida humana em sua totalidade. Existe amizade, existe aliança entre as diferentes idades da vida ou prevalece a separação e o descarte?
Segundo o Papa, "vivemos num presente onde convivem crianças, jovens, adultos e idosos. No entanto, a proporção mudou: a longevidade tornou-se massa e, em grandes regiões do mundo, a infância é distribuída em pequenas doses. Falamos também do inverno demográfico. Um desequilíbrio que tem muitas consequências".
A cultura dominante tem como modelo único o jovem adulto, ou seja, um indivíduo que é autodidata e que sempre permanece jovem. Mas é verdade que a juventude contém todo o sentido da vida, enquanto a velhice simplesmente representa o seu esvaziamento e sua perda? É verdade isso? Somente a juventude contém o sentido pleno da vida, e a velhice é o esvaziamento da vida, a perda da vida? A exaltação da juventude como a única idade digna de encarnar o ideal humano, aliada ao desprezo pela velhice vista como fragilidade, degradação ou deficiência, foi o ícone dominante do totalitarismo do século XX. Será que esquecemos isso?
Segundo Francisco, "o prolongamento da vida tem um impacto estrutural na história dos indivíduos, das famílias e das sociedades. De fato, na representação do sentido da vida, e nas chamadas culturas "desenvolvidas", a velhice tem pouca incidência. Porque é considerada uma idade que não tem conteúdos especiais para oferecer, nem significados próprios para viver. Além disso, falta o incentivo das pessoas a procurá-los, e falta educação da comunidade para reconhecê-los".
Em suma, para uma idade que é parte decisiva do espaço comunitário e se estende por um terço de toda a vida, há – às vezes – planos de assistência, mas não projetos de existência. Planos de assistência, sim; mas não projetos para fazê-los viver plenamente. E isso é um vazio de pensamento, imaginação, criatividade. Sob esse pensamento, o que cria o vazio é que o idoso, a idosa são material de descarte: nessa cultura do descarte, os idosos entram como material de descarte. A aliança entre gerações, que restitui ao humano todas as idades da vida, é o nosso dom perdido e devemos recuperá-lo. Deve ser reencontrado nesta cultura do descarte e nesta cultura de produtividade.
Segundo o Papa, "quando os idosos comunicam seus sonhos, os jovens veem bem o que devem fazer. Os jovens que não mais questionam os sonhos dos idosos, farão fadiga para carregar o seu presente e suportar seu futuro. Se os avós se voltam para suas melancolias, os jovens vão olhar ainda mais para seus celulares. A tela pode permanecer ligada, mas a vida se extingue antes do tempo. A repercussão mais grave da pandemia não está na desorientação dos jovens? Os idosos têm recursos de vida já vivida aos quais podem recorrer a qualquer momento. Ficarão a ver os jovens perderem a visão ou vão acompanhá-los aquecendo seus sonhos? Diante dos sonhos dos velhos, o que farão os jovens? A velhice é um dom para todas as idades da vida. É um dom de maturidade, de sabedoria".
O Papa sublinhou que é importante a interlocução dos jovens com os idosos e os idosos com os jovens. Esta ponte será a transmissão da sabedoria na humanidade. Espero que essas reflexões sejam úteis para todos nós, para levar adiante esta realidade que o profeta Joel dizia, de que no diálogo entre jovens e idosos, os idosos possam doar sonhos e os jovens possam recebê-los e levá-los adiante. Não nos esqueçamos que tanto na cultura familiar quanto na social, os idosos são como as raízes da árvore: eles têm toda a história ali, e os jovens são como flores e frutos.
Francisco concluiu, dizendo que "se o suco não vier das raízes, nunca poderão florescer. Tudo o que há de bonito numa sociedade está relacionado às raízes dos idosos. Por isso, nestas catequeses, gostaria que emergisse a figura do idoso, para que se entenda bem que o idoso não é um material de descarte, mas uma benção para uma sociedade".
Fonte: Portal Vatican News acessado em 23/02/2022.
https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2022-02/papa-francisco-audiencia-geral-velhice-idosos-sabedoria-jovens.html